O Perfil da Categoria Bancária e Demais Trabalhadores e Trabalhadoras Formais do Ramo Financeiro na Última Década – 2012-2022, produzido recentemente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramos Financeiro (Contraf-CUT), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apresenta um amplo diagnóstico das transformações do setor nos últimos 10 anos.
A publicação examina o perfil da categoria bancária e demais trabalhadores do ramo financeiro por vários aspectos, como unidades da federação brasileira onde estão esses trabalhadores, natureza jurídica das empresas, jornada de trabalho, remuneração, escolaridade, faixa etária, sexo, cor/raça e segmento de pessoas com deficiência (PCD). O principal objetivo da sistematização do conteúdo é subsidiar as ações do movimento de trabalhadores, diante do cenário atual do setor financeiro, que passa por intensas e contínuas transformações.
Um dos pontos que chamam a atenção é a redução de bancários em relação aos demais trabalhadores do ramo. Se em 2012 representavam 59% do total, 10 anos depois passaram a 44%. Essa mudança, segundo o estudo, “tem consequências na realidade concreta dos trabalhadores e trabalhadoras do setor, na medida em que as condições objetivas de trabalho são bastante diversas e heterogêneas”. A análise da publicação ressalta que, “em geral, as demais categorias do ramo têm condições de trabalho relativamente inferiores às dos bancários e bancárias, em termos de remuneração, jornada de trabalho, tempo de permanência no emprego, direitos garantidos em leis, acordos e convenções coletivas de trabalho”.
Entre exemplos dessa diversidade, o Perfil destaca que, no período, sempre em valores atualizados para dezembro de 2021, enquanto a remuneração média de um bancário ou bancária passou de R$ 9.558 para R$ 10.060, a dos demais trabalhadores e trabalhadoras do ramo foi de R$ 6.322 para R$ 6.284. Ou seja, além de estar em patamares inferiores, apresentou oscilação para baixo.
O estudo também mostra que há “grande diversidade de condições de trabalho” entre as categorias não bancárias do ramo financeiro formal. Os trabalhadores e trabalhadoras em cooperativas de crédito, por exemplo, que cresceram significativamente no período, têm ganho ao redor de 50% da média bancária e permanência no emprego de 49 meses, também próxima da metade em relação aos bancários.
O caderno também mostra o crescimento de categorias ligadas às áreas de seguro, previdência complementar, planos de saúde e cartões de crédito, além de outras atividades “pouco definidas do sistema financeiro nacional”, fato que favorece “o surgimento de novos modelos empresariais no ramo financeiro, como as Fintechs e as plataformas de serviços financeiros”.
Subsídios para a luta
Na introdução, a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, destaca que o Perfil da Categoria Bancária e Demais Trabalhadores e Trabalhadoras Formais do Ramo Financeiro na Última Década – 2012-2022 é importante para que “as entidades sindicais tenham capacidade de compreender o mundo em transformação, para que possam atuar de forma eficaz para regular as relações de trabalho, com base nos preceitos do trabalho decente em todas as suas dimensões”.
A dirigente aponta que o desafio dos representantes dos trabalhadores do ramo financeiro, evidenciado pela análise dos dados da última década é a “tendência de fragmentação do emprego no setor financeiro brasileiro, com a força de trabalho sendo pulverizada em diferentes categorias para além da bancária, como os securitários ou os trabalhadores e trabalhadoras em cooperativas de crédito”. Juvandia ressalta que esse processo ocorre junto ao “crescimento do emprego não assalariado, com aumento dos trabalhadores autônomos e plataformizados”.
Para Juvandia, o “conhecimento gerado a partir das informações desta cartilha e das próximas etapas dos estudos que estão por vir servirá de subsídio para a atuação da Contraf-CUT, federações e sindicatos na formulação de estratégias para a construção da organização coletiva do ramo financeiro em todas as suas dimensões e todos os segmentos de trabalhadores e trabalhadoras que estão nas cadeias de valor dos grandes conglomerados financeiros atuantes no Brasil”.
Construção do ramo financeiro
O secretário de Assuntos Socioeconômicos da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Walcir Previtale, pontua que o Perfil faz “um diagnóstico com uma década de informações sobre bancários e bancárias e demais trabalhadores formais do ramo, elucidando informações estratégicas do setor, que visam a ajudar o movimento sindical a transformar essas informações em luta concreta e real, no sentido de caminharmos no fortalecimento e ampliação do ramo financeiro”.
Walcir ainda salienta que o atual estudo é uma retomada do histórico “Perfil do Bancário”, pesquisa realizada pela Executiva Nacional dos Bancários junto ao Instituto DataFolha, em 1996. “Alguns dados são interessantes. Apontam que 86% da categoria bancária trabalhavam em agências e apenas 8% em prédios administrativos. A pesquisa também mostrava que caixas e escriturários eram a maioria dos trabalhadores nos bancos. Os homens também eram a maioria, ocupando 59% das vagas de trabalho”, lembra o dirigente.
Hoje, como pontua Walcir, “o novo estudo mostra que a realidade dos trabalhadores do ramo financeiro mudou bastante: a concentração bancária se acentuou, a organização do trabalho é totalmente diferente e a tecnologia avançou de forma avassaladora no sistema financeiro”. O secretário analisa que “tudo isso nos coloca um enorme desafio para pensar novas formas de organização sindical e de representação desses trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro”.
Novos parâmetros
Para o economista Gustavo Machado Cavarzan, da subseção do Dieese na Contraf-CUT e um dos responsáveis pelo Perfil, o trabalho de mapeamento “é importante, em primeiro lugar, para atualizar informações sobre a categoria e verificar o que mudou em relação a 10 anos atrás, em termos de padrões de jornada de trabalho, remuneração, tempo no emprego, pirâmide ocupacional, faixa etária, escolaridade, gênero, raça e pessoas com deficiência, entre outros aspectos”.
Gustavo explica que “compreender como cada indicador se comportou ao longo da última década é fundamental para direcionar mudanças na própria atuação do movimento sindical bancário”. O economista também entende que “um segundo eixo relevante do estudo é a comparação de todos estes indicadores, entre a categoria bancária e as demais categorias do ramo, buscando destacar o que unifica e o que difere cada um desses segmentos, com o objetivo de também direcionar a ação sindical mais efetiva no caminho de construção da organização mais ampla do ramo financeiro como um todo”.
Para a economista Vivian Machado, também da subseção do Dieese na Contraf-CUT e uma das responsáveis pelo estudo, “um destaque revelado pelo trabalho seria a perda de participação percentual e absoluta de bancárias e bancários em relação às demais categorias dentro do ramo financeiro, o que reforça a necessidade de se pensar formas de acessar os trabalhadores desses segmentos de trabalhadores não bancários, especialmente com um olhar voltado para as diferenças de remuneração e jornada, por exemplo”. Por conta dessas disparidades entre os diversos trabalhadores do ramo, Vivian ressalta “que futuras negociações deverão levar em conta as especificidades de cada segmento”.