Mais uma vez, a Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa Econômica Federal cobrou que o banco negocie soluções para os muitos problemas enfrentados pelos empregados, no dia a dia de trabalho. “O banco continua com cobranças abusivas de metas, assim como com os inúmeros problemas de sistema e com sobrecarga de trabalho”, disse a coordenadora da CEE, Fabiana Uehara Proscholdt. “Estes problemas se juntam a muitos outros, para os quais já pedimos soluções faz tempo, e acabam adoecendo os colegas, que precisam se virar para atender os clientes e beneficiários de programas do governo, executados pela Caixa”, completou.
Para a representação dos empregados, a mesa de negociações com a Caixa tem sido pouco efetiva. “Às vezes, esta mesa parece um monólogo. Não parece que estamos dialogando. Esse espaço teria que ser para construção, mas o que parece é que os representantes da Caixa anotam o que a gente fala apenas para rebater, não para entregar soluções aos problemas enfrentados pelos empregados”, criticou o representante da Federação das Trabalhadoras e Trabalhadores do Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro (Federa-RJ), Rogério Campanate.
Em reuniões passadas, os representantes dos empregados já haviam reclamado da falta de efetividade das mesas de negociações com a Caixa, que “se tornou um espaço de informes de medidas já tomadas pelo banco, sem sequer comunicar antecipadamente à representação dos trabalhadores”.
Problemas sistêmicos
Os empregados, e também os clientes, sofrem com os constantes “incidentes” em sistemas da Caixa, que admitiu estar fazendo “ajustes de configurações e correções sistêmicas” nas funções de pagamento instantâneo (PIX), automação de produtos/serviços (Sisag), operações imobiliárias (Siopi), risco de crédito (Siric) e gerenciador de atendimento (SIPNL).
“A Caixa admitiu problemas em cinco sistemas, mas eles existem de forma geral e atrapalham o atendimento e o cumprimento das metas impostas pelo banco”, observou Fabiana Uehara.
A presidenta do Sindicato dos Bancários do Pará e representante da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (Fetec) do Centro-Norte, Tatiana Oliveira, ressaltou a constância da ocorrência de problemas nos sistemas. “Quando há problemas, os colegas têm que realizar ações manuais. Isso prejudica o andamento dos trabalhos. E isso tem acontecido frequentemente e atrapalha o cumprimento das metas, que não são reduzidas devido aos problemas, que são dos sistemas e não dos trabalhadores”, disse.
“Temos problemas até no sistema que deveria detectar problemas nos sistemas”, ressaltou o dirigente da Contraf-CUT, Rafael de Castro, referindo-se às falhas no Sistema de Ocorrência e Alertas (Sinal).
Reclamações recebidas pelos sindicatos dão conta de que o SSFGTS, Novonegocios, Siart, Siopi, Sifec, Ciweb ficaram inoperantes por dias seguidos, além de constantes “incidentes” no Siric, SIPNL, Sisag, SICTD, Cemoc, Sipon. “Sem falar nas contas de fundo automático, que amanheceram sem saldo”, acrescentou Fabiana.
“A gente saiu da última reunião com uma perspectiva de que haveria alterações. Mas continua havendo descasamento entre os problemas que ocorrem nas agências e as propostas que são apresentadas pela Caixa para solucioná-los”, disse Rafael.
Metas
A coordenadora da CEE observou que tanto os representantes do banco, quanto dos trabalhadores na mesa de negociações são empregados da Caixa. “Todo mundo aqui conhece a realidade do banco e sabe o que é preciso ser feito. Nós, do movimento sindical, defendemos os trabalhadores, mas conhecemos e defendemos a Caixa por sua importância para o país e também sabemos que ela precisa obter bons resultados. Mas, não podemos colocar o resultado financeiro acima da importância social do banco e, tampouco, deixar de pensar em formas de alcançá-los, sem adoecer nossos colegas, que precisam de sistemas que funcionem, equipamentos de trabalho e mobiliário adequados e suporte da empresa”, completou. “E que precisam de ambiente de trabalho sem assédio, nem cobrança abusiva de metas”, continuou.
Fabiana ressaltou, no entanto, que apesar do perfil social da Caixa, os empregados são cobrados por metas em diversos “times de vendas”. “E, infelizmente, o banco não tem deixado que nossas reuniões tragam soluções para esse problema. Mudou a gestão e a equipe de negociação. Mas tudo continua como antes”, completou a coordenadora da CEE. “Temos uma cláusula em nossa CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) que diz que os bancos precisam negociar as metas e as formas de seu acompanhamento. E, mesmo assim, o banco não negocia”, disse.
Venda “complementar”
Quando se fala em metas, para Rafael de Castro, “a menina dos olhos a Caixa são as operações de crédito. Mas não apenas as operações de crédito propriamente ditas e sim as vendas de produtos que são atreladas à oferta de crédito”. “No dia a dia das agências, o crédito é utilizado como isca para a venda de seguros, de cartões e outros produtos do portfólio do banco, que nem sempre são adequados, tampouco de interesse dos clientes”, criticou.
A representante da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Fetrafi) do Rio Grande do Sul, Sabrina Muniz, lembrou que “não existe dotação para fazer as operações de crédito habitacional SBPE. E, sem conseguir o crédito, os clientes também não contratam outros produtos, que têm suas metas atreladas à concessão do crédito”.
A representação dos empregados observou, ainda, que as operações sociais ligadas aos benefícios oferecidos pelo governo federal não são valorizadas. “O Social entra apenas como mais um peso no Conquiste e, nossos colegas, que, já estão sobrecarregados, são ainda mais afetados”, disse Sabrina.
Para Rafael de Castro, a Caixa precisa reconhecer que as metas não podem ser atingidas e que a forma como elas são impostas obrigam a venda casada, que é proibida no país. “Isso precisa acabar. A Caixa precisa resgatar a dignidade da população, sua prioridade não é vender seguro, ou título de capitalização”, disse. “Esses produtos trazem rentabilidade para o banco? Trazem. A Caixa precisa atuar nesse mercado, mas sem perder o foco da sua missão, que é bancarizar o país, atender a população e ofertar crédito para o desenvolvimento do país”, completou o dirigente da Contraf-CUT, ao acrescentar que “a Caixa pode vender produtos, mas seu papel é muito maior do que vender produtos a qualquer custo”.
“A Caixa alega que as metas dos produtos são para atender necessidades dos clientes. Na realidade, da forma como as metas são distribuídas, os empregados são obrigados a ‘empurrar’ produtos que os clientes não necessitam, para cumprir as metas. Não se pensa em ‘atender necessidades dos clientes”, observou Campanate. “Aliás, as metas atribuídas às unidades sequer refletem as necessidades financeiras da unidade, fazendo com que aquelas que atingem alta performance nos objetivos atribuídos, pela direção da empresa, apresentem prejuízos milionários. Isso também penaliza financeiramente empregados em ‘alta perfomance’, que cumprem os objetivos e tem a remuneração reduzida em razão da queda do porte da unidade” acrescentou.
Novo GDP
Ao final da reunião, a coordenadora da CEE também cobrou negociação sobre o “Minha Trajetória”. “A Caixa disse que não usaria mais o GDP (antigo programa de Gestão de Desempenho de Pessoas, que foi extinto pela atual gestão), mas trouxe a metodologia do GDP para o ‘Minha Trajetória’. Não queremos uma simples troca de nome. Queremos mudança de verdade, pois nossos colegas continuam sendo cobrados em diversos ‘times de vendas’ e a Caixa continua não trazendo soluções para acabarmos com estas cobranças abusivas”, disse a coordenadora da CEE.